Política
Eu tento interessar-me pela política, mas cada vez temos mais 'politics' no nosso país e as 'policies' desapareceram quase sem terem aparecido. Não sei se esta característica da democracia portuguesa se deve ao facto de o Dicionário da Academia de Ciências ter menos qualidade que o Oxford e aglutinar estas duas palavras em 'política'.
As 'politics' irritam-me. Irrita-me a contagem de ministros de um partido e de outro como se a competência dependesse do cartão de militante. Irritam-me os mapas de Portugal com os concelhos pintados a laranja e a rosa e de quatro em quatro anos falarem de conquistas como se estivessem a jogar um jogo de estratégia no computador. Irritam-me as batalhas na lota de Matosinhos. Irrita-me pensar que há pessoas que pensam que o importante é o partido ficar à frente nas eleições nem que seja por 0,000001%. Irritam-me as moções votadas em congresso com vista a ganhar as eleições e sem objectivos concretos para o país. Irritam-me os aventais, as bandeiras e os cânticos de claques de futebol como música de fundo das visitas dos candidatos às feiras. Irritam-me os candidatos nas feiras. Irritam-me os comentadores que vão traduzindo o discurso dos políticos durante os congressos ´como se os espectadores não percebessem português e relatando quem bate palmas após cada palavra.
Quando quero ver competição, polémica, alegria, tristeza, vitórias, derrotas, bandeiras e coreografias de claques: pego no meu cartão de sócio e vou ao Estádio do Dragão. Quando quero ver pessoas interessadas no desenvolvimento do meu país, pondo à frente este objectivo das ambições partidárias: desligo a televisão, fecho os olhos e sonho.
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