domingo, outubro 03, 2004

Praça



Na última semana, elaborei um estudo urbanístico da Praça D. João I no Porto, analisando o seu funcionamento. Desse estudo resultou um relatório com 27 páginas, sendo utilizados os seguintes parâmetros de análise:
- usos e actividades
- conforto e imagem
- acessibilidades
- sociabilidade

Como a apresentação do relatório completo seria demasiado extensa para o formato do blogue deixo aqui a conclusão do estudo, que é bastante crítica para com a política camarária actual e anterior.

A análise de uma praça com estas características não pode deixar de ter em conta o contexto global da cidade nem a função para a qual foi construída. Não se pode também esquecer que o estudo foi feito apenas durante uma semana e uma análise com correcção deveria incluir visitas ao longo de todo o ano.

É uma praça ampla e moderna com boas acessibilidades, mesmo para cidadãos com mobilidade reduzida e situa-se num local central. Tem um bom parque de estacionamento subterrâneo, embora com preços demasiado excessivos (1,10€/hora). É o lugar ideal para realização de eventos ao ar livre como concertos, peças de teatro, animação de rua, cinema e transmissões em ecrã gigante de grandes eventos. Também é um local seguro de dia, dada a excelente visibilidade que existe em todos os pontos da praça e o movimento constante de pessoas.

Para contrariar estas virtudes, a praça não cria simpatia junto da comunidade. Não é um local onde as pessoas se sintam bem, que gostem de visitar e para onde se desloquem propositadamente. É um lugar utilizado como passagem, e que em ocasiões normais não tem qualquer utilidade. Não existem estruturas de apoio nem espaços verdes, o que torna o espaço cinzento e contribui para a antipatia generalizada. O espaço central da praça está sempre deserto e poucas pessoas se sentam nas desconfortáveis escadas. Se o edifício da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras é uma sinédoque dos edifícios da baixa do Porto, a Praça D. João I também é uma sinédoque de toda a baixa, sobretudo durante a noite. A animação da praça não é feita regularmente, existindo acontecimentos esporádicos que não fixam um público específico.

Contextualizando a praça com a cidade do Porto, pode-se dizer que existem outros dois locais com estas características, o espaço entre a Cordoaria e a antiga Cadeia da Relação e aquele que se encontra contíguo ao Edifício Transparente. A existência de lugares deste tipo, pouco acolhedores mas perfeitos para eventos ao ar livre é essencial numa cidade, nem todas as praças têm que ter características comuns. O que pode ser criticável é a existência de três locais assim, que pode ser considerado um número exagerado para a quantidade de espectáculos que existem no Porto. Antes da remodelação (quase simultânea) destes três locais devia ter sido feito um estudo sobre a capacidade empreendedora, em termos artísticos e económicos, da sociedade portuense para organizar eventos culturais regulares nestes recintos. Caso esse estudo tenha sido efectuado, com esta análise chega-se à conclusão que na Praça D. João I ele falhou. Acrescente-se ainda que os eventos ao ar livre estão muito dependentes das condições atmosféricas. Dado não existirem estruturas de protecção em relação à chuva, e sendo o Porto uma cidade pouco habitada nos meses de Verão, existe logo aí um grande óbice à organização de eventos. Por outro lado, os investimentos da cidade do Porto efectuados na área cultural têm sido menores de ano para ano, o que não augura um futuro melhor para esta praça. A inexistência de esplanadas, cafés e restaurantes também tem um efeito bastante negativo, e se é certo que a praça foi construída para dar visibilidade à sede de um banco, a criação de um pólo contrastante do lado oposto só beneficiaria o espaço, ao contrário do que acontece na actualidade, já que existe uma sucursal do mesmo banco no edifício sul. Para terminar, o Rivoli vive à margem de um local que foi remodelado com o objectivo de servir como um”terceiro auditório” da prestigiada casa de espectáculos. A interacção entre os dois espaços é algo inexistente mas exigível.

1 espinhos:

Blogger MT disse...

É verdade!

1:50 da manhã  

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