quinta-feira, abril 27, 2006

Stalker



Chernobyl foi há 20 anos, ainda me recordo da notícia, que só foi divulgada, diga-se, dias depois do acidente e quando as radiações chegaram ao mundo ocidental. Mas mais acidentes nucleares existiram sem divulgação. Hoje faço a crítica a um filme mas uma crítica diferente.
Stalker (1979) de Андрей Тарковский é o melhor filme que eu vi do realizador russo, ou melhor, Stalker é o melhor filme que já vi.
Stalker (Александр Кайдановский) é um homem simples que tem a capacidade de perceber sinais extra-sensoriais e conduzir pessoas num local chamado "Zona" ultrapassando armadilhas invisíveis ao homem comum e levando-as a um local chamado "O Quarto" onde é possível realizar os desejos de felicidade mais escondidos. O filme relata a busca da felicidade de dois homens que pagarão para entrar na "Zona", defendida por um conjunto de militares que a temem. Os seus nomes verdadeiros nunca são relatados, conhecendo-se apenas por Professor (Николай Гринько) e Escritor (Анатолий Солоницын). São todos a sinédoque de 3 diferentes saberes, Stalker o religioso, Professor o científico e Escritor o artístico, entrando em discussões filosóficas à medida que vão entrando na Zona. Stalker consegue ser um filme espiritual e existencial ao mesmo tempo.
Para além de uma história rica, em Stalker encontramos os planos mais arrojados, a fotografia mais perfeita, os travellings que são impossíveis. Nunca vi nenhum filme que aliasse tão bem a força das imagens à complexidade do argumento, e 27 anos depois ainda não conseguimos nada semelhante.
Um pormenor interessante é que devido a um problema de laboratório teve que ser repetida a rodagem de todo o filme com um orçamento muito mais reduzido, levando a equipa de filmagem de novo à Zona. E o que era a Zona na realidade? Um local onde existiu um acidente nuclear em 1957 e que foi completamente abandonado pelo Homem. Um local lindíssimo mas carregado de radiações. Porque foram lá filmar? Porque o desastre nuclear de Tcheliabinski só foi admitido em 1992. O que aconteceu depois? Toda a equipa foi morrendo de cancro e hoje, nenhum deles está vivo. Por ironia a central de Chernobyl aparece funcionando em pano de fundo no início do filme, adensando toda a magia por detrás desta produção.

Mais informações:

IMDB

2 espinhos:

Blogger MT disse...

A esse acrescentaria Solaris ou o Espelho, recentemente editado em DVD. Infelizmente ainda não vi o Andrei Rubliov e a Infância de Ivan.

8:26 da tarde  
Anonymous bruno knott disse...

excelente comentário... interessante esse fato do 1 ano de filmagem perdido. não sabia.

9:47 da tarde  

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