quarta-feira, dezembro 08, 2004

É



É hoje que se comemoram dez anos que um pau se ergueu em forma de cruz
é hoje que se relembra uma pedra a tapar a última morada,
é hoje que faz dez anos que Tom Jobim chegou ao fim do caminho.
É como um resto de toco que caiu por uma catarata
e é agora que todo o mundo se sente um pouco sozinho.
É
hoje que sinto um caco de vidro rasgando o meu pé,
é uma vida genial a desaparecer,
é o fim do sol que melhor iluminou a música contemporânea.
Não é uma noite,
não é um dia para recordar a morte,
é antes dia de recordar um laço de amizade com
Élis Regina, o anzol que pescou
pérolas da música baiana e paulista, da cidade e do campo,
é
um som que se agarra à nossa mente dando um
d
e bem estar que nos agarra à madeira das naus que nos levaram ao Brasil.
Graças a Cabral chegaram palavras com Caingá, chegou o Deco,
chegou a candeia que alumia a música, conheceu-se o matita-pereira.
É
uma madeira feita de vento que soprava nas velas.
Voltando ao tombo da ribanceira da vida que se assinala hoje,
é um mistério profundo, perceber como a simplicidade
é genial, quer se queira ou quer não se queira.
É genial como o vento foi ventando
obras perfeitas até ao fim da ladeira,
Ainda hoje é na sua casa, por baixo de uma viga, do vão,
que se recorda o génio em festa. Por baixo da cumeeira,
passam pessoas como Ryuchi Sakamoto e é enquanto a chuva vai chovendo,
que se conversa sobre o andamento perfeito de uma música que corre como uma ribeira.
Das Águas de Março,
que nos acalmam, que nos dão o fim da canseira...

1 espinhos:

Anonymous Anónimo disse...

Bravo!

El_gordo

12:29 da tarde  

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