segunda-feira, novembro 29, 2004

Decadência

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Continuando o dossiê sobre a decadência urbana que já começa a afectar os arredores da cidade do Porto, e depois de referido o exemplo do Centro Comercial Bravos do Mindelo, vou agora debruçar-me sobre alguns problemas de desertificação urbana.
Nos dias de hoje, a grande luta dos urbanistas é trazer de volta a população aos centros das cidades. No caso do Porto, todos os estudos feitos querem levar de novo as pessoas para a baixa, sendo uma missão quase impossível. Noutro post falarei sobre as dificuldades desta luta e o problema da qualidade de vida das pessoas.
As pessoas sairam da baixa portuense porque se construiu cada vez mais longe do centro, e com o aumento da mobilidade, as distâncias diminuiram e tornou-se barato viver longe do centro. Cada vez se construiu mais e mais longe, e cada vez sairam mais pessoas da baixa. Hoje só há imigrantes e idosos por lá e luta-se pelo regresso dos jovens casais, pelo regresso da vida. E se esse objectivo quase utópico for atingido?
A resposta é simples, os problemas que existem hoje na baixa deslocam-se para os subúrbios e depois existirá uma luta para as pessoas regressarem aos subúrbios. Se esse objectivo utópico não for atingido o panorama não será muito diferente. Cada vez se constrói mais em terreno virgem, cada vez existem mais florestas de betão e cada vez há menos solo. A população não cresce e as pessoas vão deslocando de casa para casa. Será apenas uma espiral de betão com o fim na inutilização de solo. Só quando o solo for todo ocupado os empreiteiros virar-se-ão para a reabilitação.
É por isso necessária a intervenção do estado, o solo é um bem não renovável e estando todo o negócio nas mãos dos privados não podemos augurar um futuro diferente do final do espaço livre. É necessário começar a criar entraves à nova construção. Por proibições, por taxas que tornem desapetecíveis os investimentos em novas construções e apetecíveis as reabilitações. Facilitando as demolições e reconstruções no mesmo local também, porque o objectivo não é acabar com o mercado da construção nem criar uma crise.
A população não tem crescido nem deve crescer mais, cada casa construida é uma casa vazia num qualquer outro local, deve-se por isso apostar nos locais já ocupados e não nos que estão livres, não nos que são verdes.
O exemplo do Centro Comercial Bravos do Mindelo é paradigmático. Construiu-se um elefante verde e só lucrou quem vendeu apartamentos por aquela altura. Agora é um espaço deserto e qualquer pessoa preferiria ver ali um espaço verde, um pinhal ou no pior dos casos moradias sem muito impacto visual. Muitos outros existem por aí.
Não é preciso parar para pensar. É preciso parar apenas, porque o futuro já está pensado.