terça-feira, outubro 17, 2006

O Sentido do Fim

O sentido no Fim não existe, esta é a premissa do filme. No entanto, a referência a “O Estrangeiro” de Albert Camus implica uma abordagem à obra do escritor francês num texto como este. “O Estrangeiro” é um romance que poderá ser considerado existencialista (embora o autor não se assuma como tal), cuja abordagem filosófica é explicada no ensaio subsequente “O Mito de Sisifo”.
A ideia do absurdo percorre ambos os livros. Mas o que é o absurdo? Segundo Camus o absurdo nasce da comparação entre um estado de facto e uma certa realidade, sendo um divórcio que brota do confronto entre ambos os elementos comparados. “O absurdo não está no Homem nem no mundo mas na sua presença comum”, acabando este quando acaba um dos termos de comparação, que será o Homem com a morte. Daí surge a pergunta: Será que a vida tem um sentido? Merecerá ela ser vivida? Ou devemos optar pelo suicídio?
Camus responde que o mundo não tem sentido nem razão, e que a vida é absurda e vã. Um homem consciente do absurdo é um homem sem esperança, quando tem consciência do absurdo já não pertence ao futuro. A monotonia do dia-a-dia carece de um sentido, portanto é absurda.
No Fim, Mersault é uma mulher, o que é um divórcio que brota da comparação entre o filme e o livro, nascendo logo aí o absurdo. No entanto, existem semelhanças entre os dois Mersault, ambos são homens absurdos. Nenhum deles tem esperança e os seus pensamentos são estéreis, a sua vida resume-se à existência.
O filme não pretende ser mais do que uma descrição de alguém a subir as escadas, ele é o que se vê e a referência ao livro resume-se à personagem, Mersault tanto podia subir escadas como andar pela Argélia, o homem é o mesmo e é absurdo.
O homem absurdo também é Sísifo, obrigado a transportar uma pedra até cima do monte e vê-la cair, retomando novamente a viagem até à eternidade. A subida das escadas, o aparecimento no início delas após a queda são referências óbvias ao Mito de Sísifo, e o facto de o filme ser um ciclo onde o início e o fim poderiam estar em qualquer lado acentuam esta comparação.
Muitas mais semelhanças existem entre “O Estrangeiro” e “FIM”, depois destas luzes caberá a cada um descobri-las.