Conto
José sentiu que a mão invisível não era capaz de ajudar ninguém, não conseguia sequer cortar uma nova tábua para a casota do cão, a mão invisível não servia para nada na aldeia.
-E eu, sirvo para alguma coisa?
Perguntou José à sua mão, ela não lhe respondeu, porque se não servia para nada então também não servia para falar. Decidiu ir à cidade para ver se podeia dar um novo destino à sua vida, talvez lá encontrasse quem lhe desse uma mão. Tinha esperança de encontrar uma daquelas empresas fictícias que lavam dinheiro com mão de obra invisível, ele seria a solução para os seus problemas. Como José apesar de ter uma mão invisível não tinha morrido, ainda tinha essa esperança sobrevivente quando estava na paragem de autocarro. O pior aconteceu quando chegou o veículo, o autocarro estava cheio e ninguém quis sair para entrar uma pessoa com a doença mãozinha desaparecidinha, ninguém se deslocou para a porta de saída, e o autocarro seguiu viagem sem José. Agora via o fim a chegar, só na semana seguinte haveria um novo autocarro que o levasse à cidade, e decerto também estaria cheio, a desilusão era enorme, de dimensões que começavam a atingir a linha do desespero.
As lágrimas chegaram a casa e traziam José, enxugou os olhos mas as gotículas de água pareciam suspensas no ar quando olhou para o lugar da mão. Teve que limpar as lágrimas na cozinha e quando estava a secá-las viu algo que podia mudar a sua vida (ou o fim dela), as luvas de borracha. Pegou numa delas e escondeu a sua mão invisível, agora estava ali uma luva que dava forma ao membro desaparecido. Não hesitou no momento seguinte, a carpintaria estava à sua espera, era a altura de testar o regresso de uma mão visível. Amarela, mas visível. A luva pegou no serrote e cortou as tábuas a metade, depois cortou essas metades a meio, continuou a obra, cortando as tábuas ao quadrado, ao cubo, à quarta e à quinta, e só parou quando existiam milhares de pedacinhos espalhados pelo seu local de trabalho. Juntou-os e pressionou-os, estes não se fizeram rogados e uniram-se como os homens nunca se conseguiram unir. Tinha inventado um novo material mais leve que a madeira, mais barato que o alumínio e decidiu dar-lhe o nome de Contraplacado. Substituiu de seguida a porta de sua casa por uma de Contraplacado para que todos vissem, ao fim dos dia chegaram as primeiras encomendas. O serralheiro estava no hospital com a cana do nariz partida, e a construção civil precisava de novas portas.Todos ficaram impressionados com a leveza e o baixo custo das novas portas e ao fim de dois dias não existiam portas de alumínio na aldeia exceptuando as da casa do serralheiro. Ninguém mais soube ao certo o que aconteceu ao serralheiro, apenas se ouviram boatos. Disseram que construiu um nariz de alumínio e abriu na cidade um negócio com todo o tipo de próteses metálicas, mas isso nunca foi provado, pois ninguém mais conseguiu ir à cidade porque o autocarro estava sempre cheio.
(Fim)
Amanhã apresento uma versão corrigida, coligida e revista, espero que vos agrade.
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