segunda-feira, janeiro 19, 2004

Reflexão

Um pequeno ensaio sobre a existência humana.

O que é que distingue o Homem dos demais?
O Homem construiu uma civilização com os seus defeitos e virtudes, com as suas regras, as suas transgressões e as suas características muito próprias. No entanto uma civilização não nos distingue dos outros seres. Se pensarmos nas abelhas e nas formigas encontramos animais muito mais pequenos mas com sociedades muito mais eficazes, basta comparar o número de insectos e o número de Homens que se chega logo a essa conclusão. E resistem muito melhor ao Raid do que a nossa sociedade resistiria ao impacto de um asteróide na Terra, por exemplo.
Talvez depois de descobrir a ineficácia dos insecticidas o Homem tentou encontrar novas formas de ser diferente dos outros. O Homem como homem que é acha-se sempre único. E por isso criou novas formas de se elevar juntando-as num único substantivo ao qual chamou arte.
A arte é a música, a poesia, o romance, o cinema, a dança e tudo o que o homem cria a partir da sua mente. A arte é dar existência ao inexistente, é encontrar novos caminhos no meio do nada, é criar mundos dentro do Mundo. Não nego nenhuma destas afirmações, mas pergunto:
Só o Homem consegue criar a arte?
E respondo com novas perguntas:
Haverá melhor música que as ondas do mar?
Haverá melhor poesia do que os Himalaias?
Haverá melhor filme do que a corrida de um Leopardo?
Haverá melhor dança do que a da Lua à volta da Terra?
E quando o Homem descobriu que a Arte foi inventada no mesmo momento em que o Tempo foi inventado, decidiu mudar a sua própria arte. Criou o Surrealismo, a metafísica, criou imagens diferentes de tudo o que existe. Pintar meia dúzia de frutos num cesto não tem significado porque isso já foi inventado pela natureza, mas uns riscos espalhados pela tela são únicos, são humanos, eis uma nova forma de Arte inacessível à natureza, invisível na primeira instância, inerente a um ser Racional.
Mas esqueceu-se de muitas coisas.
A Natureza já tinha inventado a matemática, os números reais e imaginários, já tinha inventado moléculas e estruturas cristalinas, milhões e milhões de fenómenos físicos que a Humanidade nunca conseguirá explicar ou sequer aperceber-se que eles existem. Nova batalha perdida pelo Homem.
Foi ai que ele se lembrou:
-E Deus? fui eu que criei Deus, ninguém no universo seria capaz de criar um ser como este.
Depois de ter feito esta afirmação mordeu a língua. Afinal o Deus Omnipresente e Omnipotente, o Deus que está em todo lado é a Natureza. Se alguma entidade está em todo lado então essa entidade É o Todo Lado, nós somos o espaço que ocupamos e se Deus está em tudo então Deus é tudo (Quem quiser saber mais sobre esta minha ideia leia o meu romance).
Não há hipótese. Sempre que o Homem se lembra de algo que o torna diferente apercebe-se que a natureza já se antecipou há muito.
Então para quê existir, se não conseguimos superar a Física, a Natureza?
Para nos divertirmos, para criarmos novos mundos na mesma!
Já que tivemos que nascer, já que temos que morrer, porque não aproveitar o espaço de tempo que separa esses dois dias para fazer o que mais gostamos? Mesmo que a natureza seja capaz de criar arte porque não também criarmos tornando o mundo mais belo? Aliás, até somos uma das obras de arte da natureza (talvez a menos artística, é verdade), até somos pedaços de Deus. Por isso só nos resta criar e alcançar a imortalidade dentro da Humanidade, mesmo com uma civilização que se mata a si própria!