sexta-feira, julho 30, 2004

Jornalistas

Fui um espectador atento do programa de ontem "Clube de Jornalistas" no qual participou o João Paulo. O tema desta semana era o comportamento dos jornalistas portugueses durante o Euro 2004. Não penso que o cachecol utilizado pelo Carlos Daniel seja o principal problema da cobertura jornalística do evento, mas sim a subserviência nas conferências de imprensa e a falta de isenção demasiado evidente e em alguns casos quase insultuosa para os adversários de Portugal.
Quanto aos jornalistas nas conferências de imprensa, eu vi algumas na íntegra (a Sporttv transmitiu-as em directo) e fiquei chocado com a postura de "cão que obedece ao dono" que todos os jornalistas presentes demonstraram, aliás, só se faziam perguntas interessantes quando permitiam os jornalistas estrangeiros participar. Vi com atenção a conferência de imprensa de Luís Figo dois dias depois do Portugal-Inglaterra à espera que lhe fizessem a pergunta que todo o país queria ouvir e continuo à espera dela. O momento do anúncio da renovação de Scolari foi, para mim, o mais chocante, com gritos e palmas. Não concordo nada com Óscar Mascarenhas quando este diz que foi um impulso impossível de conter, um jornalista deve manter a sua frieza e uma conferência de imprensa não é a vibração de um golo, nem o acto de bater palmas é comparável a um riso.
Quanto à falta de isenção nos títulos dos jornais e nos seus conteúdos, desta vez o jornalismo portugês aproximou-se muito daquilo que se conhece do jornalismo espanhol e que tanto se criticou por alturas do Portugal-Espanha. Foi uma cópia muito forçada do Diário AS e da Marca. Mas também fica a reflexão: A cobertura que os jornais desportivos fazem durante o ano, privilegiando as notícias do Benfica e do Sporting (A Bola e Record) ou do Porto (O Jogo), dando maior ênfase e dedicando um maior número de páginas aos clubes grandes não será também criticável? A resposta será fácil: Para vender os jornalistas têm que agradar ao público-alvo e é natural que utilizem mais páginas para os clubes com mais adeptos. Mas a principal função dos jornalistas não é informar? Lembro-me que quando o Boavista foi campeão, tirando o dia seguinte à consagração, eram dedicadas muitas mais páginas aos três outros clubes. E que dizer do título de "A Bola" quando o Porto perdeu a Supertaça Europeia para o Milan: "Super Rui"?