quinta-feira, agosto 19, 2004

Tempo

Estamos a meio de Agosto e a chuva continua a cair. Onde é que já se viu? Não há direito! Um ano inteiro a trabalhar, trezentos e sessenta e cinco dias e seis horas de esforço e no primeiro dia de férias a chover? Não mereço! Este governo devia de fazer aguma coisa para mudar o tempo, a culpa é deles. Alguém devia de fazer alguma coisa contra o mau tempo, no meu tempo não era assim.
No meu tempo, o tempo portava-se bem, se uma pinga de chuva qualquer se atrevesse (e não se atrevia, acreditem) a sair da sua nuvem e a mergulhar sem pára quedas, aparecia logo alguém com uma palmatória a discipliná-la. O que este país precisa é de disciplina, de alguém que meta a chuva na ordem. E já agora a minha sogra também.
O que faço agora? Já estou farto de ver as pingas indisciplinadas a suicidarem-se no parapeito da janela, a aparelhagem que trauteia o Best of José Cid repete a última música pela quarta vez, os meus filhos que foram de castigo para o quarto há quatro horas até pararam de chorar, o que me resta? Não, não vou voltar a conversar com a minha sogra. Maldito o dia em que convidaste a tua querida mãe para passar as férias connosco. A velhota não deixa de se queixar ao Deus dela, de falar no tempo, quando era nova não chovia assim em Agosto, que agora não há disciplina. Por causa de retrógrados como ela é que o nosso país não avança. O governo é um grupo de retrógrados que não consegue parar a chuva de Agosto, o trânsito e a minha sogra. No meu tempo o governo não tinha retrógrados, vivia-se para o futuro. Depois o futuro chegou e deixou-se de viver.
Acho que o futuro surgiu no dia em que casei (Embora o sentisse perto quando conheci a minha ex-futura sogra).
No nosso tempo não chovia em Agosto e tu eras o sol incessante, hoje és uma pinga horrível, gorda e indisciplinada. Havia de aparecer alguém com uma palmatória a ensinar-te o que é a vida, como o meu pai ensinava à minha mãe. No nosso tempo mesmo quando chovia em Agosto (E não chovia) nós dávamos as mãos e desviávamos por entre os espaços das pingas(Lindas, magras, disciplinadas). No nosso tempo sentávamos a ver a chuva ouvindo o primeiro album do José Cid, escutando a primeira música como um anúncio divino. No nosso tempo passávamos quatro horas no quarto e quase chorávamos de alegria. No nosso tempo construíamos o mundo num olhar. Hoje és uma retrógrada pinga de chuva que só não cai de baixo para cima porque o Deus da tua mãe não deixa (É o único que tem uma palmatória a disciplinar-te, eu perdi a minha quando descobri o futuro).
Hoje é Agosto e chove, e o governo não faz nada.