Fórum
Fui para o Fórum com as ideias que tinha transmitido neste blogue. No primeiro grupo discutimos a biodiversidade e eu defini alguns objectivos nesse campo. Pareceu-me importante o facto das RAN estarem a ser desafectadas para construirem shoppings da 2ª divisão B e mostrei preocupação com o destino das águas pluviais, que com uma impermeabilização exagerada dos solos pode causar inundações. Num grupo de 6 pessoas conseguimos estar de acordo, lançar objectivos e criticar a construção desenfreada. O nosso slogan talvez tenha sido o mais polémico "É preciso pôr um travão a tanta e tão má construção", criticandos os lóbis desta área. Seguiu-se a segunda discussão em grupo, sobre a água. Aqui comecei a sentir o monopólio dos políticos, já que aquele que mais tarde descobri ser membro do Bloco de Esquerda absorvia todas as conversas e como eu também era o participante mais jovem do grupo tive algumas dificuldades em ser ouvido. Falou-se nas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR's) e ninguém tinha conhecimento técnico do seu funcionamento, estive a dar algumas noções básicas de saneamento e consegui que uma das acções fosse o aumento de fiscalização das ligações ilegais à rede de águas pluviais e aos ribeiros. A base de toda a poluição das águas está aí, quem vai à praia em dias de chuva apercebe-se do cheiro nauseabundo. O tema das vacarias também foi bastante polémico mas penso que a conclusão a que se chegou foi de acordo com todos. Resta saber se existirão fundos. A solução não pode passar pela expulsão dos agricultores mas antes pela construção de infraestruturas de drenagem e tratamento das águas residuais. As outras acções passam pela educação ambiental (um cliché), assegurar a ligação de todas as habitações às redes de saneamento básico e de abastecimento de água e reconfigurar a conduta de águas pluviais junto à Ponta da Gafa.
"Empurraram-me" para porta-voz do grupo, e embora a hidráulica urbana não seja o tema onde me sinto mais à vontade, achei ser útil partilhar o meu conhecimento técnico sobre a área. Expliquei que a ligação de todas as habitações à rede de abastecimento de água é uma questão de saúde pública, já que não existe qualidade nas águas subterrâneas. Também referi a solução de consenso das vacarias, sendo essencial um estudo técnico que diga se é necessária a construção de uma ETAR específica para as explorações de bovinos ou se é possível a ligação à rede pública de saneamento mediante uma ampliação da ETAR de Matosinhos. Expliquei por alto, a todos os que me assistiam, como se dimensiona uma rede de saneamento, que se fazem projecções demográficas das povoações a servir pelo sistema tendo em vista um horizonte de 40 anos e que em princípio a ETAR de Matosinhos não devia prever a quantidade de chorumes das vacarias mas que uma ampliação poderia ser possível. Depois disse que a educação sobre a água é um lugar-comum e referi a importância de impedir as ligações ilegais. Senti que a população em geral (à excepção dos políticos) me acompanhava com interesse e um anónimo chegou a perguntar o meu nome e a elogiar o meu discurso. Depois aconteceu algo que quase me tirava do sério, um senhor na primeira fila, que pela sua estrutura capilar me parece ser membro da Juventude Popular atirou para o ar a fantástica ideia que "Não importa fiscalizar as ligações ilegais (!) porque elas existirão sempre, o que é importante é construir uma nova ETAR para Vila do Conde, só isso pode impedir as tais ligações (!)". Estarei no mesmo planeta que este iluminado?? Será que devia ter utilizado a linguagem gestual para ser ouvido?? Eu expliquei como se dimensiona uma ETAR, para que serve, que foram feitas as projecções demográficas para Mindelo e que portanto não é necessária uma ETAR em Vila do Conde destinada a servir a freguesia. Ele quer que levantem outra vez as ruas todas e virem as condutas ao contrário para termos a honra de existir uma ETAR em Vila do Conde?? E essa ETAR diminuiria as ligações ilegais que não devem ser fiscalizadas? Em vez de ficar perplexo devia ter-me partido a rir. Estive para responder à letra mas confesso que não me senti à vontade, só falaram políticos na discussão pública, com gravatinhas e discursos em papel, e se eu falasse pareceria que estava em busca de protagonismo.
Eu tinha uma má opinião da política, mas não sabia que se tinha chegado ao ponto de se atirarem ETAR's para o ar de uma forma populista, sem ter o mínimo conhecimento técnico e sem ouvir o que as pessoas pensam. Eu tinha explicado tudo 5 segundos antes, porque é esse senhor (?) não me ouviu?
2 espinhos:
Viva MT
Ontem tb estive no forum, infelizmente como organizador o que me impediu de acompanhar a discussão propriamente dita como gostaria. Gostei muito de ver a tua participação e só nao fui falar contigo no final porque nao tive oportunidade...
De facto aquela historia da ETAR no final foi bastante... estranha, mas mais estranho seria se concordasses com tudo o que fosse dito. É preciso muita tolerancia nestes processos... fica só o desafio para que de proximas vezes nao tenhas receio de protagonizar
Eu ia escrever um e-mail para a organização relatando mais ou menos o que escrevi aqui. Mas como pelos vistos tenho leitores-organizadores, já não será necessário. Como já referi a organização agradou-me bastante, o único "senão" foi não podermos escolher o grupo de discussão que mais nos identificávamos. Mas reconheço que nos moldes em que foi feito o fórum (muito interessantes, acrescente-se) seria impossível. Tenho é grandes dúvidas na sua aplicação, mas a culpa não é vossa! Parabéns!
Enviar um comentário
<< Atrás