domingo, dezembro 17, 2006

Borat



Os erros de Borat são óbvios em todo o filme. A começar pelo próprio cartaz:

Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan

O nome aqui escrito não se pronuncia em russo "Borat" mas algo como "Vordt", o seu nome no alfabeto cirícilo seria Борат. Depois a sua fisionomia, o Cazaquistão é um país muito diverso em termos étnicos. Temos Cazaques (com influências mongois), russos, ucranianos e mesmo persas ou chineses. A sua aparência é tipicamente portuguesa e se Borat morasse em S. Pedro da Cova seria muito mais lógico (a sua cidade-natal até tem algumas semelhanças), agora no Cazaquistão é mais loiros de olhos em bico ou morenos de olh0s azuis. Ainda há a música que é tudo menos Cazaque. Temos muito Goran Bregovic e outras bandas dos balcãs.













Os Balcãs ficam a 2.100 Km de S. Pedro da Cova e a 3.700km de Almaty. Dizer que a música dos Balcãs é semelhante à música Cazaque é a mesma coisa que dizer que a Música Portuguesa é igual à Egípcia. Mas como para os ocidentais tudo o que é ex-URSS são países de Leste, passa a ser tudo igual. Para adensar esta incongruência quse 90% da música é cigana e mesmo a aldeia de Borat é de ciganos romenos e durante todo o filme são feitas críticas xenófobas a Judeus e... Ciganos.
Durante todo o filme fingem-se sketches de apanhados quando se nota que pelo menos na maior parte dos casos há apenas uma encenação, já que a câmara é sempre visível para aqueles que Borat vai encontrando pelo caminho.

Mas será isto que faz o filme bom ou mau?

Claro que não. Ninguém com o mínimo de inteligência pode pensar que é uma paródia ao Cazaquistão. Borat está tão longe da realidade Cazaque que retira qualquer possibilidade de gozo sobre o país. Borat é sobretudo uma paródia à falta de cultura ocidental. Quem está a ser gozado são os americanos (no caso do filme) e os espectadores que acreditam que aquilo é verdade. Não sendo genial, Borat é original e utiliza muito bem o pouco nível cultural e o complexo de superioridade que têm os europeus e americanos. A cena do rodeo e o que se diz dos muçulmanos é prova disso.
Não é nenhuma obra de culto, em termos artísticos não tem grande valor (a história é demasiado rápida, a mina podia ser muito mais explorada) e aquela mania de perseguição que os Judeus têm por vezes é enjoativa, mas acaba por ser um filme a ver. Marca um estilo e uma crítica social bem mais arrojada do que o habitual. Ah, e a banda sonora é de grande qualidade... balcânica.