Agora que leio o Ensaio sobre a Lucidez de José Saramago e depois de ter verificado, como referi no post anterior, que existem 96 partidos em Espanha decidi inventar um novo sistema para substituir a democracia.
Chama-se Peladinhismo.
Dividem-se os 96 partidos por várias divisões com 18 partidos cada uma, havendo 4 divisões em que os partidos concorrem a eleições nacionais e as restantes estão subjugadas a eleições distritais, elegendo desde presidentes de câmara a presidentes de junta. Em cada uma das divisões sobem 3 e descem outros 3 partidos, e na primeira divisão o vencedor escolhe o presidente da república, o segundo forma governo e o 3º limita-se a ir à Europa com um comissário.
Graças a este sistema podem nascer três diários a discutir apenas política, ser contratados políticos estrangeiros com um certo limite, exceptuando os da União Europeia que são ilimitados. Sem dúvida algo óptimo para o nosso país. Os políticos só poderiam mudar de partido mediante o pagamento de uma claúsula de rescisão e os grandes partidos teriam olheiros para ver os jovens políticos promissores das decisões inferiores. Podiam também fazer Partidos B que concorressem às eleições autárquicas.
Com um sistema destes ninguém se abstia, não existiriam votos em branco e
a política passava a ser o assunto central de todas as discussões.
Depois de dar uma mirada às eleições espanholas, verifiquei que este ano concorreram ao todo 96 partidos. Alguns são bastante interessantes.
O 96º, teve uns admiráveis 50 votos e chama-se GPHAE Grupo Político Honradez Absoluta Española. Mas a imaginação vai para além dos 50 votos:
Existem ambientalistas dispostos a defender o património genético na Alianza para el Desarrollo y la Naturaleza (ADN), os que apenas vêem o amor à sua frente no Mutuo Apoyo Romántico (pMAR).
Há ainda os pessimistas da Otra Democracia Es Posible (ODEP), cujo slogan é uma mão a deitar o voto numa sanita, os imigrantes da américa latina: Inmigrantes con Derechos de Igualdad y Obligaciones (INDIO), e outros mais descontraidos, que se riem por tudo e por nada: Partido Cannabis por la Legalización y Normalización (P. Cannabis).
Apesar de ser a espanha das tpouradas, no país basco há quem não goste da tradição tauromáquica Partido Antitaurino contra el Maltrato Animal-Zezenketen Aurkako eta Animalien Aldeko Alderdia (PACMA-ZAAAA). quem invente siglas onde elas não existem: Partido de los Autónomos y Profesionales (AU.TO.NO.MO.). Há pessoas muito optimistas: Partido Positivista Cristiano (PPCr) e quem goste muito de sabonete Proyecto Manos Limpias (PML), há quem apenas acredite no destino: Partido del Karma Democrático (PKD) e quem já tenha o destino traçado: Partido de los Autónomos Jubilados y Viudas (PAE). Para as mulheres, nada melhor que juntarem-se ao Partido de la Asociación de Viudas y Esposas Legales (PAVIEL) e queixarem-se de ex's e actuais maridos!
No campeonato dos nomes originais, o partido que teve mais votos foi o P.CANNABIS com 16.845 votos, mas cá para mim vão ser anulados porque as pessoas que votaram não estavam na plenitude das suas faculdades mentais!
Dizem que "Matar indiscriminadamente é cobardia". É um exagero, bastava dizer: "Matar é cobardia".
Matar em Madrid, em Euskadi, no Iraque, em Nova Iorque, no Afeganistão ou em Bali é cobardia.
Matar em nome da democracia, da religião, da economia, do petróleo, da paz ou da raiva é cobardia.
Ponto final.
Futebol é um artista estar desinspirado durante oitenta e nove minutos e ao nonagésimo pôr em euforia milhões de pessoas espalhadas pelo mundo.
Hoje fui ao supermercado de Manchester comprar uma Liga dos Campeões. Mesmo à entrada, numa prateleira estava um Whisky Irlandês fora de prazo mas com pitões afiados, depois passei por um avião holandês que não voava e dei uma vista de olhos a uma máquina portuguesa de cortar a relva que só trabalha durante 5 minutos. Estava a ver que não encontrava a liga dos campeões, mas na ultima prateleira, lá estava ela escondida por baixo de um monte cheio de lata. Peguei no único objecto que queria comprar naquele supermercado e as latas cairam-me todas em cima. Mas não eram latas tão grandes como a que tinha o empregado escocês que veio falar comigo. Disse que me atirei para o chão para tentar roubar a liga dos campeões. Mas como eu não sou nem empregado nes escocês, como não ando a fazer negócios escuros utilizando o dinheiro ganho pelo supermercado, atirei-lhe com uma lata à cabeça e vim-me embora com a liga dos campeões. Ela sorriu e perguntou-me como tinha ido parar a Manchester, um supermercado que tão mal a tratava. Eu disse que era obra de um diabo vermelho, e que o céu da sua próxima morada era azul e branco.
Depois da excelente campanha a favor dos deficientes da MacDonald's, disponibilizo estes artigos interessantes
Declaração Universal dos Direitos do Homem:
Artigo 6º
Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei.
Artigo 27
§1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo científico e de seus benefícios.
Declaração dos Direitos da Criança
PRINCÍPIO 10º
A criança gozará de proteção contra atos que possam suscitar discriminação racial, religiosa ou de qualquer outra natureza. Criar-se-á num ambiente de compreensão, de tolerância, de amizade entre os povos, de paz e de fraternidade universal e em plena consciência que seu esforço e aptidão devem ser postos a serviço de seus semelhantes.
Constituição da República Portuguesa
Artigo 71.º
(Cidadãos portadores de deficiência)
1. Os cidadãos portadores de deficiência física ou mental gozam plenamente dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição, com ressalva do exercício ou do cumprimento daqueles para os quais se encontrem incapacitados.
2. O Estado obriga-se a realizar uma política nacional de prevenção e de tratamento, reabilitação e integração dos cidadãos portadores de deficiência e de apoio às suas famílias, a desenvolver uma pedagogia que sensibilize a sociedade quanto aos deveres de respeito e solidariedade para com eles e a assumir o encargo da efectiva realização dos seus direitos, sem prejuízo dos direitos e deveres dos pais ou tutores.
In memoriam
Maria Conceição Campos de Morais (Mimi) 6-3-1917 a 29-2-2004
O dia de hoje está a mais
O dia de hoje não existe
São vinte e quatro horas de sono acordado
que jazem num relvado de andorinhas
O dia de hoje sabe a mármore
de olhar sisudo caminha sem andaimes
e desgoverna a ordem natural
A naturalidade do tempo
foi rasgada por um dia
que se atreveu a surgir da noite
O papel em dois pedaços
voa sem parar
à espera que o acaso
vista o casaco
e saia do marasmo.
De uma folha fizeram-se duas
uma não chora,
outra vive.