quarta-feira, setembro 22, 2004

Educação

O que se está a passar na colocação de professores já atingiu um nível para lá do preocupante.
Para quem não está familiriarizado com o caso, vou fazer uma breve explicação do que se passa. Nos anos anteriores, a colocação dos professores no nosso país era feita em diferentes fases e utilizando um programa informático que já existia há décadas. Tendo como objectivo modificar o sistema para que os professores fossem colocados numa única fase e para que fosse actualizada toda a informática deste problema, o ministro anterior decidiu contratar uma empresa que fizesse um novo programa capaz de processar os dados de dezenas de milhar de professores e colocá-los em milhares de escolas. Até aqui nada de incorrecto.
O problema começa na escolha da empresa, uma acção que continua envolta num grande mistério. Mesmo que tenha sido escolhida de uma forma honesta (e não ponho isso em causa), o cidadão comum (eu sou um deles) fica sempre com um pé atrás ao saber que essa empresa tem como administradores dois ex-ministros do PSD e um dos quais teve a pasta da educação e foi indigitado há pouco tempo administrador da Casa da Música. É urgente saber como foi feita a escolha, e cada segundo que se espera pela explicação é uma gota a mais no copo da suspeição. Eu sei que este tipo de decisões também acontecem com outros partidos e em outros orgãos de poder, e por isso nunca me filiarei num partido.
A escolha efectuada pelos vistos não foi a mais correcta. O que ainda adensa mais a bruma da desconfiança, se era a melhor empresa nunca teria falhado de uma maneira tão catastrófica. Quem percebe o mínimo de programação sabe que não há programa sem o respectivo bug, e só ao fim de muitas tentativas se alcança a melhor solução matemática. Esta frase tanto se aplica a um programa como os que eu faço para calcular caudais com uma dúzia de linhas de código, como para um programa de Babel como o do Ministério da Educação. É necessário realizar testes atrás de testes antes de dar um programa como pronto a utilizar. Por muito que possam dizer, neste aspecto houve uma falha grave, o programa não foi testado de forma conveniente, era obrigatório adiar por um ano a sua aplicação e colocar os professores à moda antiga, era simples. Agora fazer testes quando se utiliza o programa pela primeira vez a sério e quando estão dependentes dele milhões de pessoas é no mínimo de irresponsáveis, e esses irresponsáveis têm que pagar pela sua irresponsabilidade. Há pessoas que tiveram responsabilidade política e devem tomar uma decisão política, os que têm uma responsabilidade técnica e económica têm que pagar por isso. Gostava de saber se a empresa de Rui Machete e Couto dos Santos vai indemnizar o Ministério da Educação ou os professores afectados. Mas penso que se fizer uma pergunta sobre isso, entro na retórica.
Voltando à responsabilidade política, ela não pode ser imputada na totalidade à ministra mas ela não deve fugir às responsabilidades. Disse que as colocações estavam prontas numa data e isso não era verdade, nunca podia ter feito essa afirmação, pelo menos neste aspecto é responsável. Há pessoas que têm a sua vida profissional e familiar dependente das listas, e esperarem horas e horas pela sua colocação sem nada verem é frustrante. Portanto, quando o pesadelo terminar, a decisão mais nobre que a ministra pode tomar é demitir-se. Nada mais simples.