terça-feira, setembro 14, 2004

Erasmus

No Blogasmus vou iniciar uma série de crónicas de um português que aproveita o programa Erasmus para viajar até... Portugal. Deixo aqui um primeiro aroma.
[O (ouriço cacheiro) vai continuar com a regularidade dos últimos meses, não fiquem com ciúmes]



Atendendo ao facto de ainda estar a passar os últimos dias de Verão no Mindelo, sinto-me um estudante de Erasmus neste fantástico país que é o Porto.
Hoje tive o meu primeiro dia de aulas e utilizei como meio de transporte automóvel. Até aqui nada de especial, parecia que continuava no mesmo país, mas quando entrei na via norte estava uma fila de carros maior do que aquela que existia na fronteira de Valença-Tuy nos tempos em que o Acordo de Shengen era confundido com um filme de kung fu e em que toda a gente tinha de parar no posto aduaneiro para mostrar o BI, passaporte, cartão de sócio do FCP e boletim de vacinas dos periquitos. Após horas e horas na fila (acordei por volta das 3 da manhã para uma aula às 9), lá cheguei à fronteira que separa as nações Porto e Portugal, uma fronteira chamada Circunvalação. Lá pude mostrar os meus documentos ao guarda fiscal e quando os procurei na carteira descobri que me faltava o tal boletim de vacinas dos periquitos. Entre voltar para trás e ficar sem os meus animais de estimação preferi a segunda hipótese e lá deixei a gaiola no chão como quem deixa sandes à porta dos jogos do Euro (Mas sempre foi melhor que atravessar a Ponte da Arrábida que separa Porto e Marrocos, lá o controlo é muito mais apertado)
Começo a pensar... Eu estava um bocado ensonado... A imagem que me vem à cabeça não é de um guarda num posto fronteiriço... Parece um grupo de três Romenos a limpar o pára-brisas do meu carro num semáforo da circunvalação. Se calhar estava a delirar após 6h no trânsito... Agora sim, já me lembro, eles andavam os três de mãos dadas cantando uma musica estranha assim do tipo:

Vrei sa pleci dar nu ma, nu ma iei,
Nu ma, nu ma iei, nu ma, nu ma, nu ma iei.
Chipul tau si dragostea din tei,
Mi-amintesc de ochii tai.

Não devia ter oferecido a gaiola com tanta leviandade, até porque o pára-brisas do carro está cheio de manchas.
Mais tarde entrei na fadculdade, lá soube que a aula das 9h não havia e que podia ter acordado apenas às 5h da manhã. Quase me suicidei, confesso. Mas depois de ter entrado na sala de computadores e visto um paraíso do tuning informático mudei logo de ideias. Teclados almofadados, ratos ópticos, drive COMBO, ou seja, tudo o que um bom praticante de Counter Strike gosta. Esperam-se noites de grande agitação na FEUP! Este foi um Verão em cheio para os viciados de electro e informática! Mas não foi só para eles, não me posso esquecer dos vendedores da hp que encheram os bolsos com estas novas contratações.
Depois deste sentimento anti-capitalista uma lágrima inundou a minha iris e ameaçou deslizar pelo meu rosto utilizando a famosa TÉCNICA dos escorregas. Limpei-a com rapidez para que ela não ficasse com os calcanhares todos arranhados. Mas mesmo limpando a lágrima, a nostalgia invadiu o meu corpo. Onde estariam os Compaq's que fizeram parte do meu imaginário estudantil? Que atrocidade fizeram aos ratos sem bolas, aos teclados sem teclas, aos monitores com as impressões digitais marcadas?? Snif Snif... Os meus ddedddos ttttremmmem aaa eeescreeeveer iistooo.
Só há pouco descobri o que lhes aconteceu. Numa visita pontual ao ICBAS, mesmo junto ao átrio principal lá estavam os nossos computadores todos sorridentes, caixas em cima de monitores, teclados por baixo de ratos, ali estavam eles provando que quatro anos não são nada. Daqui a quarenta anos os médicos deste país ainda serão formados naqueles pczinhos. Fiquei triste pela separação mas contente pela nova vida dos Compaq's.
Em breve escrevo-vos sobre este estranho povo que conheci em Erasmus: Os Portugueses