quarta-feira, dezembro 27, 2006

Cultura

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Já há muito tempo que não escrevo um artigo de fundo por estes lados, parece que chegou a hora.
Em primeiro lugar, é importante dizer que não estou a mandar uns bitaites (aliás, não sou muito bom nisso, quando não sei calo-me!). Conheço o Teatro Art'Imagem por dentro, já trabalhei com eles, conheço diversas pessoas ligadas ao meio, por exemplo José Carretas que dirige a Panmixia, sou um actor (fraquinho) no desemprego (ou mais ou menos), fiz teatro amador, teatro universitário e teatro (semi-) profissional numa pequena companhia, que não recebe subsídios vivendo do que produz (Teatro Arado). Por outro lado não dependo do teatro para me sustentar (mas dependo dele para viver, o que é diferente). Vai daí, posso falar de tudo e sem medo de retaliações.
O ano que marcou o teatro e a cultura no Porto foi o de 2001. Muitas companhias nasceram e as que já existiam viram ali o início de uma nova época, a criação de novos públicos e uma nova cultura de ir à cultura. Tudo Novo! No ano seguinte o regresso a 2000, dois anos depois Rui Rio e a perseguição feita a todas as entidades culturais.
Não sou a favor dos grandes subsídios monetários, que fazem com que as pessoas deixem de trabalhar. Há companhias que vivem demasiado bem recebendo subsídios e fazendo meia dúzia de espectáculos para meia dúzia de pessoas. É uma forma cómoda de viver que serve para alguns (poucos). Na maioria dos casos os subsídios estatais de 5.000/10.000 euros por ano servem apenas para pagar um ordenado.

Como apoiar?
O que será então um bom apoio a uma companhia de teatro? Um espaço, ou melhor 2 espaços. Um espaço para ensaiar (a utilizar diariamente) e um espaço para actuar (partilhando com as outras companhias). Isto sim, é um apoio real e sem qualquer tipo de hipótese de utilização indevida.
Para o primeiro tipo de espaços, com tantos edifícios vagos no centro da cidade propriedade da Câmara porque não cedê-los/alugá-los a preços simbólicos a companhias de teatro? Estimular que elas próprias os reabilitem, trará pessoas para a baixa e melhorará a imagem da cidade.
Os espaços para actuar deverão ter melhores condições para receber público, daí que tenham sido inventados os teatros e auditórios municipais. No Porto há dois, Campo Alegre e Rivoli. O do Campo Alegre está reservado para a Seiva Trupe desde o tempo em que a Câmara era do PS e assim continuará durante muitos e bons anos. Uma companhia, por muito mérito que possa ter (ou não ter) foi beneficiada em relação a todas as outras. Cedeu-se o exclusivo de um espaço novo e com condições fora de série a meia dúzia de pessoas e os outros podem ficar por aí pelos cantos a pedir ajudinha. Quanto ao Rivoli, o mesmo aconteceu. Até aqui, todas as companhias podiam utilizar o espaço (após uma longa lista de espera) sem gastar praticamente nada, a partir de Março não existirá nenhum espaço para as companhias actuarem gratuitamente. A agravante do Rivoli em relação ao Campo Alegre é que La Féria é de Lisboa, vem de fora e ocupa um lugar que antes era de todos os outros. No Campo Alegre era uma companhia do Porto com largo historial, mas o resultado é o mesmo.

Fontes de Financiamento
Mas sem subsídios e sem público como pode sobreviver uma companhia? Dizer que se se for original os espectadores aparecem é um mito. Era preciso revolucionar a forma das pessoas olharem para o teatro, por muito boas que sejam as peças ninguém vai ver e enquanto no Porto decorre 1 ou 2 espectaculos por dia em Lisboa são 20 ou 30 e não há actor que sobreviva por cá, todos emigram já que até a televisão no Porto é rarefeita. A única fonte de rendimento são as escolas e o público infantil. Com 2 vantagens: enchem salas (são obrigados a ir e é uma festa) e é uma aposta em criar públicos para o futuro. Não é por acaso que o TEP reponha todos os anos Os Maias e o Felizmente há Luar. São duas obras que pertencem aos programas de Português. E em festas de natal, festas de fim de ano lá se vai enchendo salas e ganhando o suficiente para as despesas. Não dá para ficar rico, torna o trabalho muito menos estimulante (dependendo dos casos) mas é a única hipótese de circular algum dinheiro pelo meio artístico.

O que vai acontecer
Sem Rivoli acabaram-se as salas municipais e a garantia de um espaço para as companhias portuenses. Para além do espaço, o Rivoli é uma sala que chama o público, mais do que um Salão Latino a biblioteca Almeida Garrett ou uma qualquer sala perdida na Rua de Camões. O projecto de La Féria pretende que no Pequeno Auditório sejam feitas pela sua empresa espectáculos infantis para as escolas. Será a única mina que resistia a ser explorada industrialmente, os artesãos do teatro não terão hipóteses de competir com alguém que tem uma máquina, uma sala com total disponibilidade e a ajuda da Câmara na promoção. Não duvido que o Teatro encha e tenha público. Não gosto do estilo nem considero ter qualidade o que La Féria faz. Tem público, não precisa de subsídios e tem mérito por isso. Mas pode continuar a ir ao Coliseu, alugar e pôr lá a Amália e a My Fair Lady. Será muito fácil para ele estrear em Lisboa e repôr espectáculos no Rivoli e Vice-Versa. Poupa dinheiro e duplica as receitas, é de facto uma mina de ouro e assim, claro que não precisa de subsídios. Um dos concorrentes era a Plateia. Uma plataforma que integra as companhias de teatro da cidade. Será preciso dizer mais alguma coisa?
O que se gastava no Rivoli era uma gota de água no orçamento camarário e uma grande diferença para o meio cultural. Para finalizar uma memória de um dos melhores espectáculos que alguma vez vi. Era de novo circo e esteve um dia no Rivoli. A crítica está aqui. Até sempre!

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