Festival
Este post continua a reportagem sobre o 10º Festival Internacional de Teatro Cómico da Maia. Quanto aos espectáculos principais, na terça-feira foi apresentado "El Decameron" pelos bascos do Ados Teatroa. Era um conjunto de histórias da época medieval, escritas por Boccaccio e representadas por cinco actores que entraram em palco nus. Utilizaram uma forma bastante imaginativa de narrar, trocando de roupas de história para história, e embora não tenha sido um dos momentos mais marcantes do festival, foi um espectáculo com qualidade.
Na quarta-feira surgiu o espectáculo mais imaginativo e um dos mais hilariantes do festival. O Chapitô já nos habituou a uma forma de teatro incomum que utiliza objectos do dia-a-dia para criar efeitos enriquecedores da arte representativa. Este ano o tema era Luís de Camões, sendo narrada a vida do poeta com imprecisões históricas geniais. "Talvez Camões" merece ser visto, mesmo que seja necessária uma viagem a Lisboa. No entanto, deixo uma reflexão: Este tipo de teatro original, com uma fórmula cativante e imaginativa já tinha sido utilizada o ano passado em "D. Quixote", existirá no futuro uma evolução desta linha ou a fórmula será repetida com novos enredos?
Na quinta-feira, o espectáculo que luta com "Talvez Camões" pelo título de melhor do festival. Ri-me mais com a peça do Chapitô, mas a maior parte das pessoas com quem falei preferiram o humor de Leandre (na foto). No entanto, para mim este dia foi inesquecível, porque o clown catalão levou-me para o palco sem nada combinado e como parte de uma representação interactiva. Pensava que a minha timidez venceria mas talvez devido à experiência teatral que tenho estive descontraído durante os cerca de 5 minutos passados em palco. Consegui rir-me, ouvir as gargalhadas do público e inclusive fazer com que o actor principal também se risse com contenção. Tudo sem palavras ou sons. Um dia que podia ser claramente mais triste que os outros e que acabou por se tornar inesquecível. Muitas pessoas chegaram mesmo a pensar que estava tudo combinado, mas asseguro-vos que nunca tinha visto o tal Leandre na minha vida.
Sexta-feira foi a vez de "A Gargalhada de Yorick" com André Gago e Joaquim Nicolau. Confesso que ponho o pé sempre atrás ao ver espectáculos com actores conhecidos, mas não posso dizer que esta peça fosse má. Num festival deste género também deve haver um humor mais sério, com contrastes dramáticos, e este foi o caso. Se todos os espectáculos exercitassem os abdominais como o "Ibéria", "Talvez Camões" e o de Leandre as empresas que fabricam máquinas de musculação para a TV Shop iriam à falência. Sexta-feira descansou-se de tanta musculação hilariante, e não soube assim tão mal.
E porque nem tudo foi bom neste festival, devo dizer que os espectáculos que vi às 23h30 no palco secundário estavam a um nível muito distante de qualquer um dos principais. Um humor pouco refinado, actores com menos categoria e pouca imaginação. Falei com o Director Artístico do Festival José Leitão e ele concordou com as críticas, parece que existe pouca oferta em termos nacionais e que não é possível conhecer todos os artistas estrangeiros. Para fazer o festival, ele vê cerca de 40 espectáculos durante um ano, desses existem à volta de 10 com qualidade, que ocupam o palco principal. Os outros, são escolhidos um pouco às escuras. Mas também não é este formato que prejudica a grande qualidade do festival.
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