A Barraca de Andrey Rublyov
Como grande admirador da obra de Andrey Tarkovsky e o filme Andrey Rublyov dos poucos que ainda não vi, não podia deixar de estar presente no Pequeno Auditório do Rivoli para ver o filme integrado no ciclo Mosfilm.
Pensava ver o auditório vazio, um filme de mais de 3h, russo, com legendas em inglês, a preto e branco e a começar às 23h15 não é propriamente o cenário mais cativante para quem costuma ir habitualmente o cinema. No entanto o Pequeno Auditório estava cheio. Realmente ver Tarkovsky projectado a partir da película e num ecrã de cinema é um previlégio a que poucos têm acesso.
Sentei-me e começa... a 2ª parte do filme. Ouve-se um burburinho, algumas pessoas levantam-se e outras vêem o filme pensando ser aquele o início (uma cena de batalha a meio). Vêem-se pessoas a subir e a descer as escadas tentam falar com o projeccionista mas o filme continuava a ser projectado. Permaneci no meu lugar à espera que o erro fosse corrigido, bastava trocar de bobines.
Passou meia hora e já muitas pessoas tinham saído, continuava-se a olhar para a cabine do projeccionista e afinal ele tinha desaparecido sem reparar no problema. O barulho é tão grande que alguém que pensava ser aquilo o início do filme gritou SHIUUUUU! Saio e o hall de entrada já tem bastantes pessoas, muitas delas já tinham visto o filme e desde o início tentavam encontrar o projeccionista ou alguém da organização. Por fim alguém vai à sala dizer em voz alta que aquela era a segunda parte. Depois chega o projeccionista que diz que aquelas eram as únicas bobines que tinham vindo da Rússia e realmente achava estranho ser um filme de três horas e aquela película ser de cerca de hora e meia.
Ninguém tinha testado o filme antes de o projectar e tudo acabou numa longa fila na bilheteira do Rivoli a pedir o reembolso.
Talvez não tenha sido um erro crasso da organização nem uma terrível falta de profissionalismo e de respeito para com os espectadores. A minha versão que esta é uma nova corrente do cinema contemporâneo, os Meios-Filmes. Quando tudo parece realismo, corta-se a história a meio e vê-se uma história vinda do fantástico que toma um sentido real.
Obrigado Fantas!
P.S.: É mais fácil mandar vir um filme da Rússia do que pedi-lo à Cinemateca Portuguesa (mas que só cede filmes dentro do perímetro urbano lisboeta).
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